Os bancários vem sofrendo ao longo dos anos com a jornada cada vez mais estressantes. Condições precárias de trabalho, metas abusivas e líderes despreparados e invasivos. Faz com que os bancários adquiram doenças que causam afastamento.
Dessa forma, a soma dessas condições tem contribuído de forma a aumentar exponencialmente o número de bancários afastados por doenças que são consideradas como do trabalho – diretamente ligadas entre a função que exercem.
Assim, o número de enfermidades é assustador e mostra a realidade. No ano de 2012, 21.144 bancários foram afastados das atividades por adoecimento, 25,7% por transtornos mentais. Dessa forma, uma consequência direta da pressão por metas. Outros 27% por doenças do sistema osteomuscular (LER/Dort). As informações são do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Até março de 2013, 4.387 bancários foram afastados, 25,8% por transtornos mentais e 24,4% por LER/Dort.
Por isso, a autarquia previdenciária, o INSS, tem inclusive uma lista de doenças em que se reconhece de forma automática como relacionadas com o trabalho, o NTEP. Que a partir do cruzamento das informações de código da Classificação Internacional de Doenças – CID-10 e do código da Classificação Nacional de Atividade Econômica – CNAE aponta a existência de uma relação entre a lesão ou agravo e a atividade desenvolvida pelo trabalhador.
Assim, a indicação de NTEP está embasada em estudos científicos alinhados com os fundamentos da estatística e epidemiologia. A partir dessa referência, a medicina pericial do INSS ganha mais uma importante ferramenta-auxiliar em suas análises para conclusão. Assim, isso sobre a natureza da incapacidade ao trabalho apresentada, se de natureza previdenciária ou acidentária.
Por isso, o NTEP foi implementado nos sistemas informatizados do INSS, para concessão de benefícios, em abril de 2007. E de imediato provocou uma mudança radical no perfil da concessão de auxílios-doença de natureza acidentária. Dessa forma, houve um incremento da ordem de 148%. Assim, este valor permite considerar a hipótese que havia um mascaramento na notificação de acidentes e doenças do trabalho.
Por isso, no NTEP, para a categoria dos bancários as doenças em destaque são:
- F30-F39 Transtornos do humor [afetivos]
2. F40-F48 Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o “stress” e transtornos somatoformes
- G50-G59 Transtornos dos nervos, das raízes e dos plexos nervosos
4. M60-M79 Transtornos dos tecidos moles
Este agrupamento contém os seguintes agrupamentos:
- M60-M63 Transtornos musculares
- M65-M68 Transtornos das sinóvias e dos tendões
- M70-M79 Outros transtornos dos tecidos moles
O adoecimento do sistema músculo-esquelético é uma das principais doenças dos bancários. Por isso, pesquisas realizadas na categoria revelam que mais de 50% dos bancários apresenta sintomas compatíveis com LER/DORT. A incidência é muito alta. E, apesar de campanhas preventivas. O número de bancários afetados não para de aumentar. Além disso, a LER/DORT merece uma atenção especial porque pode trazer incapacidade temporária ou permanente. Além de ocasionar transtornos psicológicos decorrentes da doença, como a depressão.
Dessa forma, estão no grupo desta doença que atinge os bancários: tendinites, tenossinovites, epicondilites, síndromes compreensivas de nervos periféricos e bursites. Podendo afetar os membros superior, ombros e a região em torno do pescoço. Um indivíduo pode ter mais de uma patologia.
Assim, os principais sintomas são dores, cansaço, fadiga muscular, sensação de peso, queimação nos braços, ombros e pescoço. Os sintomas podem surgir dias, semanas, meses ou anos após a exposição contínua ou freqüente aos fatores desencadeantes.
Apresenta evolução crônica. Se detectada no início, é de fácil manejo. No entanto, na maior parte dos casos, as pessoas somente procuram ajuda quando a doença já está em fases mais avançadas. Nestes casos, a reversão do quadro é mais difícil. Veja os graus de evolução:
Grau I
Assim essa é a Sensação de peso e desconforto no membro afetado. Dor espontânea, em geral leve. Às vezes em pontadas, sem irradiação nítida, de caráter ocasional durante a jornada sem interferir na produtividade. Melhora com o repouso. Não há sinais clínicos. Bom prognóstico.
Grau II
Já essa é a dor é mais persistente, mais localizada, mais intensa e aparece durante a jornada de modo intermitente. É tolerável e permite o desempenho da atividade, mas com redução da produtividade nos períodos mais intensos. Pode haver distúrbios de sensibilidade e irradiação definida. A dor pode não melhorar com o repouso e a recuperação é mais demorada. Não há sinais clínicos. Prognóstico favorável.
Grau III
Essa é a dor é mais persistente, mais forte e tem irradiação mais definida. O repouso em geral só diminui a intensidade da dor. Há distúrbios sensitivos mais graves. Há queda da produtividade ou impossibilidade de executar a função. Os sinais clínicos estão presentes e o retorno à atividade produtiva tende a ser problemático. Prognóstico reservado.
Grau IV
Contudo, a dor é forte, contínua, por vezes insuportável, podendo estender-se por todo o membro. Há perda da força e do controle dos movimentos. A capacidade de trabalho é seriamente prejudicada. Podendo haver incapacidade permanente. As atividades da vida diária são prejudicadas. Comumente ocorrem alterações psicológicas.
Assim, a A LER/DORT é resultado de um uso excessivo e/ou inadequado do sistema músculo-esquelético. Devido a exigências e pressões provenientes da organização do trabalho. As pessoas colocam o seu corpo à serviço da tarefa; é daí que vem as posturas inadequadas. A LER/DOR é o registro no corpo e a denúncia de que ocorreu um uso excessivo, além das possibilidades e dos limites individuais dos trabalhadores.
Além das doenças físicas, as doenças que mais atormentam os bancários são as doenças da alma, as doenças psiquiátricas.
Para isso, temos uma combinação social perigosa de: instabilidade na economia, desemprego aterrorizante, jornadas exaustivas com acumulo de trabalho em razão da falta de pessoal. Atrelados aos líderes despreparados e também muito pressionados a dar cada vez mais lucro com menor custo.
Uma das doenças mais comuns nos bancários são a depressão e a síndrome de Burnout, entre outras:
Alcoolismo crônico relacionado ao trabalho:
Pode iniciar com um uso abusivo de substância e evolui para um estágio em que o indivíduo não consegue mais controlar o desejo ou compulsão de beber. Mesmo quando este comportamento traz consequências nocivas à sua saúde e relações interpessoais (o processo é semelhante para o abuso de outras drogas).
Episódio depressivo relacionado ao trabalho:
Pode ser leve, moderado ou grave. É desencadeado ou agravado por circunstâncias do trabalho. Fique de olho nos sintomas: tristeza persistente, choro fácil, alteração do apetite e do sono, culpa, sensação de fracasso, incapacidade de reação, falta e prazer, desespero.
Transtorno de estresse pós-traumático relacionado ao trabalho:
Essa é uma resposta a uma situação de estresse ameaçadora ou catastrófica. Como assaltos no trabalho, acidente de trabalho, ameaça à integridade física ou ainda outra circunstância ligada ao trabalho.
Síndrome de fadiga relacionada ao trabalho:
Já a síndrome de fadiga é a presença de fadiga física e mental constante, a pessoa está sempre cansada. É resultante da fadiga acumulada ao longo de meses ou anos em uma rotina de trabalho em que não há oportunidade de obter o descanso suficiente. É comum haver insônia, falta de paciência e desânimo.
Neurose profissional relacionada ao trabalho:
Os sintomas em geral são poucos específicos, como cansaço, desinteresse, irritabilidade, alterações do sono. Algumas situações que atuam como fatores de risco são. Problemas relacionados com o emprego e desemprego, mudança de emprego, ameaça de perda de emprego, ritmo de trabalho penoso, desacordo com o patrão e colegas, condições de trabalho difíceis, entre outras.
Síndrome de esgotamento profissional (burnout):
É uma espécie de estresse crônico, uma doença dos bancários. A pessoa que antes tinha muito envolvimento com o seu trabalho, com os clientes, com os colegas, começa a se desgastar, desistir, perder a energia e o interesse pelo trabalho. Pode estar associado às reestruturações no trabalho.
A crescente das doenças dos bancarios é clara, inclusive preocupando o Ministério Público do Trabalho. Há um estudo assustador do Ministério Público do Trabalho da Bahia, que traz dados alarmantes:
“Foram analisadas neste trabalho informações geradas por instituições públicas, referentes às demandas de trabalhadores das cinco maiores instituições bancarias situadas no estado da Bahia, no período de 2010 a 2015. Com estas informações foi possível se obter um panorama geral das condições de trabalho e saúde na categoria de trabalhadores bancários do Estado da Bahia.
Os resultados apresentados apontam para algumas questões importantes:
– Há um número expressivo de denúncias ao MPT sobre práticas de assédio moral por parte de instituições bancárias.
– Considerando o período de 2009 a abril de 2016 houve um aumento percentual de processos trabalhistas contra bancos, em relação à Segurança e Saúde do Trabalho.
– Ações de violência, incluindo assaltos em agências e explosões de caixas eletrônicos, têm sido uma vivência comum entre os bancários, principalmente em cidades do interior do estado.
– O significativo número de benefícios previdenciários relativos aos grupos de doenças osteomusculares, do sistema nervoso e transtornos mentais e do comportamento verificado entre os trabalhadores dos bancos estudados, sugerem que fatores relativos ao ambiente de trabalho em si (organização do trabalho, assédio moral e riscos biomecânicos) se associam a fatores externos, como a violência urbana na gênese destes agravos.
– O grande número de transtornos relativos à reação ao estresse grave e transtorno de adaptação, reforça o papel da violência urbana como um fator de risco para a saúde mental dos bancários.
– O fato de o Banco do Brasil e o Bradesco liderarem entre as denúncias de assédio moral, ao mesmo tempo em que estes bancos aparecem como as instituições com maiores proporções de benefícios concedidos para transtornos mentais e do comportamento (Grupo F da CID10), revela que a problemática de assédio moral e suas consequências na saúde do trabalhador vêm permeando as instituições bancárias tanto no âmbito público como privado.
Benefícios concedidos pelo INSS
– Assim, a maior parte dos benefícios concedidos pelo INSS no setor bancário no estado da Bahia, no período de 2010 até 2015 compreendem benefício previdenciário acidentário (B91), em todo o período estudado.
– Dessa forma, o Banco do Brasil é o único banco que apresentou índice de prevalência B31 maior do que por B91. Este banco também apresenta a maior parte dos benefícios concedidos por as doenças do grupo F.
– A Caixa Econômica Federal aparece com um significativo aumento do número de benefícios concedidos (B31 e B91) em 2015, com valores mais elevados em relação aos anos anteriores e em relação aos demais bancos. Ressaltando também que neste ano há uma redução significativa entre o número de trabalhadores nesta unidade financeira, em relação às demais, ao mesmo tempo em que se verifica um aumento progressivo do número de agências.
CATs
– O fato de a maior emissão de CATs por parte do sindicato ser relativa a reabertura de benefício pode estar revelando dificuldade na emissão pelos bancos ou ineficácia de ações de reabilitação por parte destas instituições.
– O número elevado de CATs emitidas pelo Sindicato (inicial e de reabertura), relativas à função de Gerente, traz à tona o processo atual de reestruturação produtiva em instituições bancarias.
Por tanto, os dados produzidos nesse documento confirmam o que tem sido evidenciado nos estudos epidemiológicos e pesquisas interseccionais acerca da progressiva incidência dos agravos relacionados ao trabalho no setor bancário, alertando para a urgência por intervenções efetivas e busca de soluções para a melhoria nas condições de trabalho.
Como limitações deste trabalho apontam-se: algumas informações foram disponibilizadas de forma geral, impossibilitando análises específicas, a exemplo de distribuição da população dos bancos por sexo, faixa etária, tempo de afastamento de trabalhadores em benefício e a origem do benefício espécie B91 (CAT, NTEP, ação judicial); a impossibilidade de realizar levantamento direto de dados.”
Clique no botão abaixo e baixe o guia prático como o Auxílio Doença do Bancário.